A soja é a matéria-prima prioritária para produção de biodiesel no Brasil, com 7,2 bilhões de metros cúbicos de óleo (74%), enquanto a participação do milho, no setor de etanol, representa cerca de 21% da produção nacional, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. “Apesar da relevância desses grãos na matriz energética de combustíveis, busca-se outras fontes renováveis para ampliar as opções no Brasil. Neste sentido, fizemos uma análise da viabilidade e eficiência de outras matérias-primas para o programa de biocombustíveis no Brasil, mais especificamente para o biodiesel”, afirma o pesquisador da Embrapa Soja, César de Castro, um dos autores do livro Biodiesel no Brasil: Reflexões Sobre o Potencial das Principais Matérias-Primas, que foi lançado pela Embrapa no X Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja 2025.
A publicação é gratuita e conta com 172 páginas, distribuídas 16 capítulos, em formato digital. https://www.alice.cnptia.embrapa.br/alice/handle/doc/1176026. São autores da publicação, os pesquisadores da Embrapa César de Castro, Marcelo Hiroshi Hirakuri, Fábio Alvares de Oliveira, Marcelo Álvares de Oliveira e Alexandre Magno Brighenti, o pesquisador da Epamig Norte José Carlos Fialho de Resende e o agrônomo Ruan Francisco Firmano.Para os autores, a transição da matriz energética para fontes renováveis tem motivado a busca por diferentes espécies vegetais como matérias-primas. A estimativa dos autores é que existam ao redor de 350 espécies de plantas, com potencial para utilização na produção de biodiesel, a exemplo da macaúba, pinhão-manso, nabo forrageiro, colza, girassol, canola, mamona, crambe, tabaco energético e carinata. Mesmo assim, a produção de óleo vegetal, no Brasil, encontra-se baseada na cultura da soja, sendo que outras opções – palma de óleo, algodão, girassol e amendoim – são minoritárias no mercado brasileiro. “Podemos citar como matérias-primas secundárias o algodão e o dendê para o atendimento regional da Política Nacional de Biocombustíveis do Brasil (RenovaBio)”, diz Castro.
O livro Biodiesel no Brasil: Reflexões sobre o Potencial das Principais apresenta o Programa de Produção de Biodiesel no Brasil, com foco na produção de matérias-primas e alerta sobre a necessidade da alocação de recursos financeiros para formulação de uma agenda política e agrícola de fortalecimento ao setor. Além disso, a publicação também destaca a soja como cultura-chave na produção de bioenergia. E, ressalta a relação direta da soja com cadeias de outros materiais graxos (gorduras bovina, suína e de frango), além do óleo de fritura.
Os autores analisam ainda algumas culturas alternativas e potenciais fontes bioenergéticas, como a camelina e a macaúba. “Mesmo assim, alertamos ser fundamental a adoção de culturas de alta produtividade, preferencialmente com elevado teor de óleo, que atendam aos critérios de baixas emissões de carbono, ao longo de seu ciclo de vida, e que sejam compatíveis com práticas de manejo sustentável do solo”, ressalta Castro. Para o pesquisador, o aumento da demanda energética, aliado à consciência da sociedade em relação às mudanças climáticas, exige soluções inovadoras e cria oportunidades para a bioeconomia de fontes renováveis. “Nesse contexto, a bioenergia pode ter um papel crucial na diversificação das opções energéticas, especialmente para o Brasil, apresentando-se como uma das alternativas mais limpas e sustentáveis, além de contribuir para a mitigação das mudanças climáticas”, ressalta Castro.
Soja e Milho – A soja ocupa em torno de 47,5 milhões de hectares no Brasil e, em grande parte, é sucedida pelo cultivo do milho, em cerca de 21 milhões de hectares, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Para Castro, a soja conta com sistemas de produção regionalizados e zoneamento agrícola de risco climático bem estabelecido, indicando os ambientes com menores riscos de frustração de safra, o que torna o Brasil o maior produtor mundial da cultura com 169 milhões toneladas, na safra 2024/2025. “No Brasil, apesar das enormes possibilidades agronômicas, características climáticas favoráveis, grande disponibilidade de área e possíveis vantagens comerciais, a expansão de outros culturas, infelizmente, esbarra em fatores como o tempo de maturação dos novos projetos, a dificuldade de mão de obra, o manejo da adubação, a colheita e tratos culturais, entre outros desafios”, avalia Castro.
Por outro lado, o milho é responsável pela produção de quase 116 milhões de toneladas de grão, dos quais 17,3 milhões de toneladas foram processadas para etanol, equivalente a 21% da produção nacional. “Considerando-se as potencialidades e o crescimento do milho para atender as indústrias de produção de etanol, é possível que o milho venha a se aproximar da soja em termos de produção, podendo apresentar uma maior competitividade em algumas regiões e segmentos de mercado”, calcula Castro.